Se eu fizesse essa pergunta para uma criança, a resposta chegaria em meus ouvidos como poesia, com muita simplicidade e como um rabisco de giz. Hoje, me pego fazendo essa pergunta para mim. Para minha adulta que se perdeu no meio de tantas possibilidades e de um certo tom de obscuridade. Sim! Não estou sendo otimista e muito menos conseguindo iluminar algumas ruas do meu caminho. Estou no meio de uma pandemia e eu por infelicidade estou positivada com esse vírus que mexeu e mexe tanto. Sinto as pessoas cada vez mais egoístas, o mundo de ponta cabeça e não consigo como num passe de mágica mudar a lente que estou vendo tudo.
Os últimos anos foram andar em uma montanha russa. A subida, a descida, o costume de estar em velocidade, o freio que machuca até mesmo quem está com os cintos... Do nada tudo para e começamos novamente. Alguns conseguem descer, outros vomitam e muitos seguem na montanha russa: mais curva, subida e descida. Nesse momento sigo descendo. Não pelo fato de estar doente. Aliás, por estar doente precisava levantar a mão e pedir tempo: deitar, me recuperar, hidratar, dormir e depois de plena voltar para o brinquedo do parque.
Lembro que não estou no parque, que a montanha russa é uma ficção criada por minha cabeça e volto para minha pergunta; volto para minhas possibilidades sem fim. Busco me equilibrar entre uma crise ou outra de ansiedade. Me sinto para baixo, me acho por uns minutos (na verdade por muitos deles) uma péssima profissional. Na profissão do passado falta algo para o dia de hoje, na do presente também... Me sinto em falta, em falta comigo, com meus sonhos e minhas ambições. Sou uma escritora que não escreve como deveria e hoje em meio a questionamentos volto a escrever, volto a falar com vocês. Não para ser recebida com pena ou chegar com receitas prontas. Elas existem, mas não funcionam. Pelo menos não agora e não estão funcionando para mim...
Eis meu sumiço, minha vergonha e mais uma vez a certeza de quanto mais demoramos para assumir algo, mas nos afastamos do nosso caminho, do que queremos e amamos. Até chegar um ponto em que não sabemos onde foi o começo, o meio e onde estamos. Hoje, me sinto assim. Sem saber onde tudo começou e como usar minhas ferramentas para saber o que fazer enquanto eu cresço.
O ano de 2021 foi difícil. O “pós” pandemia 2020 me deixou mais ansiosa, mais fechada, menos aberta a sentimentos, propósito e tudo mais. Senti que finalizei o ano mais rude, menos sorridente e em luto. Não um luto figurativo, mas um luto real. Perdi uma pessoa querida em dezembro e de uma certa forma o resultado da minha procrastinação bateu na minha porta (papo para outro texto e outro momento). Mas senti o ano escorrendo pelas mãos com a sensação de que pouco foi feito. O que foi feito foi invisível, e sendo sincera, o invisível não enche os olhos, e muito menos um coração.
Chego em 2022. O meu 2021 e o seu foram embora. A sujeira que sobrou e os problemas precisam ser resolvidos. Não há magia na mudança de ano. No fundo nunca há. A mudança existe na gente, apenas na gente. E quando crescemos, tomar essa consciência ou saber dela deixa tudo mais difícil. A cobrança é até maior do que simplesmente comer 12 uvas, fazer simpatia ou acreditar no horóscopo. O ano mal começou e sinto em “me dizer” (sim, abro um momento e confesso para mim mesma o que estou sentindo) que me vejo menos empoderada e menor no meio de tanta mudança e confusão mental. E falo novamente: NÃO TENHO RECEITA PRONTA. Não consigo simplesmente dizer SE AME. Pois as vezes não é fácil e a solução não vem só daí. Mais uma vez me questiono se alguns posts que escrevi até agora foram quase uma receita pronta e fácil de realizar. Me desculpem queridas leitoras pelo tato do passado, ou por muitas vezes te fazer sentir que era simples demais. Confesso, que nesse momento não está tão simples. Talvez o cansaço, a febre e a confusão mental para realizar tanto e para desafogar os pequenos problemas.
Escrevo esse texto para me perguntar e te perguntar. O que somos quando crescemos? O que fazer para sair disso tudo? O que ser e como ser? O que eu posso ser quando crescer na minha vida profissional, ou simplesmente como mulher, como uma mãe e esposa que HOJE está sem forças e sem luz na cabeça? Tiro hoje minha máscara. Me permito sentir o cansaço, a raiva, as frustrações e me sentir perdida para os próximos passos. O crescer perante caídas, recaídas, recomeços e fraqueza é mais complexo do que o crescer que sentimos nos ossos, na pele e em nossos corpos. O que eu vou ser quando crescer vai mais do que o cargo na minha carteira de trabalho, vai mais do que estado civil ou quantas vezes meu passaporte foi carimbado. O que eu estou sendo enquanto eu cresço como pessoa, mãe, mulher, profissional e escritora júnior é o que me representa. Hoje, eu estou perdida. Recuperando minha vontade de seguir com meus sonhos, revisitando projetos passados e ainda lembrando da minha criança sonhando em mudar o mundo. O mundo que olhando pela janela está tão diferente. Mas que nesse momento representa o meu mundo de dentro: confuso, cansado e doente.
Esse não era o texto que eu imaginei escrever, mas foi automaticamente criado pelos meus dedos e coração. É um texto de verdade, um texto onde eu não trago respostas, receitas e muito menos respondo a minha pergunta. Mas sei, que eu quero continuar tendo FORÇA enquanto eu cresço. O que eu serei daqui pra frente? Não sei, mas se eu tiver metade da coragem de hoje, eu serei maior do que já fui.
Fabiana C. O.