Ainda percorrendo a infância e tendo cada vez mais claro que nossa construção, cura e essência se encontra por lá, resgato na minha memória uma mulher muito importante: Maria Helena! Maria foi minha professora na primeira série. Eu era da 1ª C e tive aproximadamente 300 dias e um total de quase 1000 horas ao seu lado. Maria Helena acompanhou meu processo de alfabetização. Entrei na escola com 6 anos lendo e escrevendo várias palavras, mas ela foi provavelmente a pessoa que me marcou e me incentivou a explorar aquela nova paixão. Nunca esqueci do quanto ela sempre me falava que eu era boa em interpretar os textos. Eram textos pequenos, mas hoje entendo que eu também era.
Tive a chance de encontrá-la três anos depois. Novamente ela disse: você escreve muito bem, você entende os textos muito bem. Com um sorriso de criança guardei aquelas palavras e ao longo dos anos, eu carreguei esse elogio como certeza. Talvez a cada carta de amor eu aprimorava minha escrita e a cada mensagem para minhas amigas eu mesma me surpreendia...
Quase 30 anos depois, decidi escrever profissionalmente e fiquei pensando onde tudo isso começou. Lembrei carinhosamente da fala daquela professora, e questionei sobre a diferença que isso pode ter feito na construção da minha história. O elogio dela, por mais simples que foi, me moldou... Hoje moldada e construindo uma nova caminhada, penso no quanto ao longo de nossa história podemos ter e ser “Marias Helenas”. Quantos professores não tiveram essa ação na vida de um aluno?! Quantos ensinaram o básico, mas deixaram também palavras, gestos, amor e carinho. Hoje não é dia dos professores, mas confesso que gosto de trabalhar com a ideia de que todo dia podemos agradecer; comemorar, vibrar amor e estreitar laços. E hoje reconhecendo esse momento de minha infância, desintegro também a imagem de Maria Helena apenas como professora. Ela antes de qualquer coisa era mulher, era menina... Uma mulher que incentivou outra, por menor que eu fosse.
Me pergunto então no poder desse incentivo e do reconhecimento. Podemos e devemos praticá-lo. Fazer disso rotina em nossas vidas. Palavras simples e verdadeiras podem nos mover para onde precisamos ir... Um obrigada de verdade, o falar você é uma boa mãe, o abraço de reconhecimento com uma amiga, o elogio para a comida feita, uma frase que você fala para uma criança, um você está bonita, você é foda, ou simplesmente um sorriso e um bom dia! Elogios de verdade e conectados com a necessidade do outro.
É um reconhecer de forças, olhares, tarefas e características até mesmo adormecidas... É estreitar laços de confiança. Aliás, onde foi que a crença de que não devemos confiar umas nas outras surgiu? Não pesquisei e estudei o assunto a fundo, mas de maneira instintiva, entendo que podemos ter sido ensinadas por uma sociedade patriarcal que não era certo essa união. Que dividir nossas histórias, dores e coragem era coisa de “mulherzinha”, no diminuitivo mesmo, para deixar bem pequeno tudo que temos dentro. Ser uma mulher que apoia a outra pode trazer consequências maravilhosas, e algumas pessoas não querem ter e viver essas consequências.
Se por algum motivo eu tivesse sido chamada de burra ou não ter despertado essa minha relação com a escrita pela Maria Helena, eu talvez não estaria aqui rascunhando e dividindo isso com você. Percebe quanta mudança há nessa construção? No quanto um gesto muda na verdade várias vidas e não apenas uma...
Por coincidência essa semana, conversei com uma mulher e também professora. Falamos sobre uma aluna de 5 anos que foi incentivada a pular corda e ultrapassar o limite e insegurança que existia dentro dela. Essa mesma mulher ensinou a menina a falar e aderir o “E DAI?”. Eu me emocionei ao ouvir a história e fiquei imaginando o que essa menina levará para a vida... Feito mágica e com os mistérios que temos, percebi mais uma vez que o olhar feminino entregou para aquela criança algo que ela precisava. Provavelmente algo que fará sentido e irá ajudá-la a moldar o seu caminhar!
Percebi o poder que palavras e gestos têm em nossas vidas. Claro que revisitando minha criança interna desde o último texto, lembrei da professora Maria Helena. Mas entendo que você também teve a sua Maria. E como mágica, me transportando para o computador já adulta, concluo que praticar esse reconhecimento, esse usar a palavra certa e entregar um olhar de apoio para outra mulher e para uma criança pode transformar o mundo: o mundo de dentro e o mundo que vivemos...
Te convido minha cara leitora a falar! Que possamos ser mais Marias, Helenas, mulheres e amigas! Que possamos incentivar uma a outra e construir olhares de união e amor!
Obrigada Maria Helena!
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