Como uma mulher que escolheu o drama como sua pitada literária, cá estou! Já é madrugada e eu decidi escrever para todas as minhas leitoras. Como se fosse uma carta aberta, registro caracteres e revisito a minha escrita, resiliência tão necessária, os ciclos e TPM’s que me fizeram perguntar se eu estava no caminho, se postar importava e se eu realmente estava fazendo o meu melhor. Sim! Por trás de sonhos existem dúvidas, por trás de palavras motivacionais existe alguém que sempre busca se apegar ao que faz bem e ao que faz sentido. Nessas horas eu agradeço ao meu processo contínuo de autoconhecimento, minha psicóloga, minha fé e determinação. Quando eu sigo nos meus momentos de baixa, eu lembro que eles passam, e se eu tiver conectada comigo mesma, percebo que meu corpo pede descanso, minha mente coisas novas e meu lado Taurina, pede bons chocolates, abraços quentinhos e momentos especiais. Pois é minha leitora, as TPMS passam, e com elas o nosso fracasso diminui, nossas dúvidas deixam de existir e seguimos mais 21 dias iluminadas.
Como eu disse no início, este não é um texto romântico. Por mais que eu tenha pincelado leveza, esperança e luz nas últimas linhas, estou aqui para finalizar uma reflexão que comecei e escrever sobre Sra. Capa, meu primeiro livro!
Quase como um diário e escrevendo como se fosse a Sol, digo em alto e bom tom: ele foi publicado, vendido e lido por milhares de pessoas. Soltar Sra. Capa tem sido um processo, em especial nos meus momentos de TPM. Deixar o vermelho ser mais orgânico enquanto eu sigo acreditando nas minhas personagens e capas, até parece um crime. Há menos de um mês lancei o audiolivro, um novo ciclo necessário, sonhado e que sigo com uma lista de próximos passos. Passos que darei, mas que serão acompanhados por outros. Minha estrada ganha mais uma faixa; acho que essa pode ser uma boa analogia. Com Sra. Capa, seguirei de bicicleta; literalmente um caminho de altos e baixos e que depende de mim, das minhas pernas, meu foco e da minha velocidade...
Sei que algumas leitoras cobram a continuidade do meu primeiro livro... o livro da Sol e da Ana, com tantos laços, nós e fios. Sra. Capa fez muita gente revisitar dores, suas histórias e conhecer o outro. O olhar para o outro e para tanta capa foi possível. E o meu texto precisa falar sobre isso. Pensando, repensando e com sede de experimentar outras águas, eu decido por não escrever sua continuação, ao menos por agora. Quase como um momento de birra de uma jovem autora, eu seguirei andando de bicicleta com o livro e seu saquinho de veludo. E na pista ao lado, acharei um novo jeito de andar, nessa estrada que me chama. Sigo decidindo o projeto, finalizando alguns estudos, livros e materiais, mas quis registrar alguns sentimentos. Talvez essa reflexão ganhe sentido a partir de agora. A possível pausa com Sra. Capa dá chance de novos começos, parágrafos e capítulos que retratarão os bastidores da vida. E aproveitando a palavra bastidores, trago hoje para o palco, algo que percebi há uns dias: a continuação de Sra. Capa se faz presente todos os dias. Ela surge no dia a dia de tantas mulheres e leitoras com idades distintas que se abriram e me fizeram acreditar no meu trabalho, na luz que eu direcionei para alguns assuntos e no quanto podemos e devemos progredir. Obrigada a cada uma por tanto!
Aproveito o momento e sem romantizar a caminhada. Hoje entendo, que com a minha lanterna eu iluminei cabeças, corações e caminhos. Mas também enxerguei INFERNOS. Que tenso e que estranho falar sobre isso. Mas sim, entendi esse lugar ao falar com centenas de mulheres, jovens e meninas tão novas. Meninas que em pleno 2023 e 2024 seguem sendo abu$adas. Meninas que devem escolher o seu lar pelo nível de abu$o aceitável: moro com um parente que me assedia se@ualmente ou com uma mãe que me maltrata psicologicamente?
Enxerguei fragmentos de infernos individuais em muitos depoimentos e trocas que tive nos últimos anos. Me mantive olhando nos olhos de cada mulher e de cada menina. Fiz e continuo fazendo o que está dentro do meu limite e do meu tamanho. Eu em minha bolha social, como mulher, como mãe, escritora e ativista em tantas causas, já chorei por não acreditar em futuro, em não ver luz no fim do túnel para tantas e tantas pessoas. Segui entregando a minha escuta, abraços e as reflexões entendidas entre as páginas do meu livro e do que acredito.
Assim como Sol, percebo as dores de muitas e rezo para que os efeitos sejam os menores possíveis. Assim como Sol, enxergo capas. Capas que me dariam uma linda continuidade. Mas que hoje me fazem entender também o peso do meu trabalho e minha responsabilidade. A capa que eu trouxe à tona, faz cada vez mais sentido por trás de tanto relacionamento abusivo, de uma cultura machista e comportamentos que nos minguam dia após dia. A continuação de Sra. Capa e dessa história, tem se feito presente no meu dia e ainda não é hora de pôr no papel. Escolhi seguir equilibrando quem eu sou nisso tudo e de como escutar sobre o que eu escrevi foi importante, lindo, dói, e mostrou que a ficção é pura realidade. As histórias sangram, o coração adoece e por curiosidade, a depressão é apenas uma das causas perto de tanta capa utilizada.
Quando rascunhei o meu livro, pensei que achar tantas Anas não seria tão fácil. Pensei que Anas estavam lá atrás. Dois anos depois e com todas as informações e possibilidades, deixo registrado que somos cada vez mais Ana. “A-N-A”, que de traz para frente dá no mesmo. Ciclos, repetições, começos e fins que são os mesmos. Com essa brincadeira de letras, percebo que ainda temos um longo caminho a seguir.
Sei que sou sempre positiva, e continuo acreditando na luz que ilumina e que terá o poder de mudar um pedaço do mundo, nem que for o individual ou de alguém em especial. Mas hoje, depois de muita fala e muitos eventos, trago para o papel um olhar diferente para as minhas visitas e conexões. Algumas delas, me fizeram perceber o quanto precisamos falar mais e refletir mais. Como diz a música da Mariana Dulasco: abafaram nossa voz, mas me disseram que não estamos sós...
Como escrevi no começo, esta é uma carta aberta para as minhas leitoras. E agora para as mulheres que me mostraram a importância de falarmos sobre essas dores e seus infernos, eu escrevo: vocês não estão sós. Para aquelas que já me falaram do caminho percorrido, das mudanças, da empatia, do amor-próprio e tantas coisas colhidas e plantadas, eu peço: sigam se olhando com amor e olhando para os olhos de outras mulheres. Precisamos seguir unidas.
Todas com suas lanternas iluminando o próprio caminho e a rua ao lado. Iluminar tanto que o até o inferno ganhe luz. Clarear o caminho para que muitas mulheres e meninas saiam dessa escuridão e de experiências tão ruins. Hoje de verdade, torço para que as pessoas presas e sem saída consigam ter uma luz. Torço para que percorram o caminho com capa e tudo e saiam dos lugares que não devem e precisam estar.
Neste momento, convido a muitas leitoras a pôr a capa nos ombros. Não para aceitar e viver tudo o que precisa, mas para sair e não viver o que não precisa ser vivido. Hoje, mudo um pedaço do meu discurso. A dica de tirar a capa será eterna, mas diante de tanta realidade, usar uma capa se faz necessário! E aprendendo com os sentimentos da TPM, a gente deve e pode recomeçar, colocar e tirar capas, a gente deve brilhar e continuar! A vida é feita de ciclos e por um momento seguir um novo me deixou desconfortável. Eu entendo a potência do meu vermelho, do meu livro e das minhas ações. Mas também respeito os meus novos sonhos e hoje começo a reconhecer a minha capacidade de ser resiliente mais uma vez, criativa e iniciar um quadro branco com uma nova história. Enquanto o livro novo não fica pronto, sigo espalhando vermelho, luz e convidando todos vocês para refletirem sobre capas, infernos, lanternas, ciclos e mudanças!
Obrigada por tudo até aqui!
Com Carinho
Fabiana C.O
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